sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sozinha

Educar não é fácil. Como qualquer educador – calculo eu – há temas com que lido melhor que outros ou, de outra forma, que consigo ter reacção/resposta mais fácil. O tema da morte nunca me fez muita confusão quando por ti interpelada. Tentei sempre explicar de forma simples e clara, sem grandes rodeios, mas também terminando o assunto assim que achei que estava explicado, não dando azo a medos ou grandes conversas. Há uns meses, contudo, fiquei atrapalhada. Não dei parte fraca e relativizei, mas creio pelo facto de não antever o tema fulcral da conversa, não foi para mim fácil controlar a situação. Disseste-me que ias ao quarto mas que não querias ir sozinha. Lá fui contigo, tendo em conta que sei bem que os medos fazem parte da tua idade e sempre considerei que para enfrentá-los mais tarde sozinha, agora deves fazê-lo connosco. Já estavas no quarto quando entrei na casa de banho (mesmo em frente). Começaste a chorar, a dizer que te deixava sozinha. Eu nunca te deixo sozinha, disse eu, estamos as duas em casa e tu estás no teu quarto, mas eu estou logo aqui. Não gosto que me deixem sozinha, retorquiste. E eu continuei dizendo que eu e o pai nunca te deixaremos sozinha, num sítio que não conheças ou numa situação. Nem quando eu for muito crescida? Perguntaste. Quando fores muito crescida farás tudo, ou quase tudo, sozinha. Já não terás medo e será normal. O choro continuou e eu sem perceber porquê, até que disseste: mas depois vocês morrem e eu fico sozinha! Tentei desdramatizar, disse que faltava muuuuuito tempo para isso, que não pensasses nesse assunto. Mudei de conversa, brinquei, lavámos os dentes e fomos para a cama ler-te uma história. A verdade é que fiquei com um nó na garganta até eu adormecer…

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