terça-feira, 7 de abril de 2009

Repensar ideais

O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista. O seu texto, a mim, deu-me o que pensar. Não mudei contudo a minha opinião. Antes acredito cada vez mais que é muito importante ter filhos, mas tê-los e criá-los. Não basta querê-los e “depositá-los” nos infantários, avós, colónias de férias e múltiplas actividades. Se daqui a dez anos não vieres conversar comigo quanto te sentires ameaçada na escola, se daqui a 15 não me quiseres contar o que fizeste numa saída à noite a culpa é apenas minha. A cumplicidade é fundamental, tal como são a formação, a educação e os “princípios base”. E para haver tudo isto, é preciso muito amor, uma boa dose de liberdade em igual medida à de responsabilidade, muita cumplicidade e confiança. Tudo isso tem de partir de mim. As escolas, a restante família, os amigos, são apoios secundários. Só posso garantir-te que eu, estou e estarei sempre “aqui” para e por ti. Vou errar muito, mas vou fazer sempre por errar o menos possível. Vou fazer sempre por pesar muito bem os prós e os contras nos meus “sims” e “nãos” e vou acima de tudo fazer sempre tudo para que sintas que sou a tua melhor amiga. O meu objectivo único é a tua felicidade.

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas:
a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que "o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

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