quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um exemplo

Há cerca de um mês houve um enorme terramoto no Haiti. A desgraça foi e é imensa. Demorará anos a fio a voltar a ser o Haiti que era e, o pior, é que era já uma enorme desgraça na verdade. É um exemplo entre milhões de coisas menos boas que acontecem nas nossas vidas. Nas da Humanidade, eu quero dizer. Saberás um dia, infelizmente. Mas escrevo-te por um outro exemplo. Após a tragédia um dos nossos amigos que é médico decidiu instantaneamente que tinha de ajudar, de forma muito pesosal, utilizando a sua sabedoria e o seu coração. Assim fez. Está lá há uns dias. Relata-nos em blogue o seu diário que eu sigo com muito prazer e emoção. Um dia, saberás que a par das desgraças pequenas, médias ou desmedidas de tão grandes, aparece sempre o amor, o carinho, a solidariedade, a generosidade e a compaixão que todos, sem excepção, temos dentro de nós. Creio que dificilmente compreenderás por vezes que todos temos estas capacidades. Mas eu acredito que sim. Acredito mesmo. Eu acredito que todos nascemos bons. A vida e as suas mais diversas circunstâncias fazem-nos optar por caminhos que nem sempre são os melhores. E não precisamos de tomar como medida os péssimos caminhos... os actos mais violentos que são praticados. Basta-nos olhar para a mentira, a raiva, a mesquinhez de alguns. São já maus caminhos que bastem para percebermos que o livre arbítrio tem muito que se lhe diga. Quantas vezes eu própria já os tomei, em actos, gestos, palavras ou omissões. Faz parte do que somos, da vida, do crescimento e, sobretudo, eu creio, do sofrimento a que por vezes somos sujeitos. Mas voltemos ao exemplo. O nosso amigo foi. Está lá. Ajuda efectivamente, trata doentes com as suas mãos, com os seus actos, com as suas palavras, com o seu olhar. Está lá. Com a sua presença mínima no meio de tamanha tragédia e entre multidões, está lá, faz a diferença, nem que seja, em umas centenas de vidas de umas centenas de pessoas. E não é bom? Para elas, para eles, para nós, para a Humanidade? Sim. Não tenhas dúvidas filha, é bom. Independentemente daquilo que define o que é bom e mau, independentemente das linhas ténues que definem uma e outra coisa quando estão em jogo valores mais ou menos elevados, é bom. É tudo o que ele podia fazer e fez. Fez mesmo. Um exemplo. Daqueles que quero que tenhas conhecimento. Que ainda que nunca sigas, saibas que está dependente apenas de ti. Da tua vontade, das tuas opções de seres boa ou muito melhor. A solidariedade manifesta-se nestas alturas e é bom. Dizer que deveria ser sempre, todos os dias, e não apenas nos momentos de terror é certo, mas não me convence. O Manel (desta vez faço questão de deixar aqui o seu nome escrito) é um exemplo. Para mim é. Daquilo que todos podemos ser. E não apenas por ter como “desculpa” a sua profissão, não. Ele é assim, bom. Se não o fosse no seu íntimo, não teria ido. A coragem é também precisa, a possibilidade, a oportunidade. Sim, claro. Mas a opção é nossa em última instância e ele escolheu ir. Está lá, está mesmo lá. É o nosso amigo, é um exemplo bom. A parte disto, apenas quero dizer-te que estas nossas capacidades, devem existir sempre que quisermos, devem aparecer entre os “nossos”, praticadas com amigos e familiares. Para eles, não há necessidade de desgraça, de oportunidade. A opção é constante e devemos segui-la sempre, pois há sempre, sempre algo que podemos fazer com os “nossos”. E, a meu ver, aos “nossos” devemos isso ainda mais. Mas acredita que, neste caso, em que o Haiti não é os “nossos” do Manel, ele foi também. Ele está lá. Parabéns pela atitute, força, coragem e empenho do nosso amigo e “tio” Manel. Um exemplo.

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