Os pais erram. Os pais gritam, zangam-se, castigam. Os pais
vacilam, choram, temem. Os pais desconfiam, os pais dizem não e não sei. Os pais
são donos da razão, outras vezes desesperam. Os pais ensinam, servem de
exemplo. Por vezes são um mau
exemplo. Os pais mentem ou escondem. Os pais dão palmadas, nem sempre, bem dadas. Os pais enganam-se,
arrependem-se. Sim, os pais erram. Nenhum pai nasce sabendo sê-lo. Simplesmente uns têm mais apetência, facilidade
e, até, mais vontade. Os pais são humanos e, como tal, erram. Pecam por
excesso, por defeito, por ausência. Analiso-me com frequência. Às vezes penso que excessivamente. Até mesmo dos momentos em que me sinto
completamente confiante nas minhas decisões, dou por mim a duvidar mais tarde.
Creio que não há dia em que não pense se estou no caminho certo. Os pais erram. Os meus erraram? Certamente. Sem
dúvida. E então? Consigo
culpar-me com toda a facilidade quando vejo em vocês algo que não me agrada,
que considero reprovável, quando vos vejo tristes por algum motivo. A culpabilização
de mim própria (enquanto pessoa e mãe) nestas alturas é aliás quase imediata! Curiosamente, não consigo culpar os meus em
nada. Nadinha. O passado está lá atrás:
irremediável e sereno. Verdade, hoje já o consigo dizer com mais clareza. Aquilo
que sou hoje a eles o devo (senão em 100%, em muito). A única coisa que cada
vez mais tenho a certeza (mesmo sabendo apontar com precisão decisões,
momentos, palavras, actos menos bons ou maus dos meus pais) é que eles fizeram
o melhor que sabiam. Sobretudo, o melhor que podiam. Com tudo aquilo que tinham
ao seu alcance, material ou não. Com tudo aquilo que a sua vida lhes ensinou,
lhes forneceu. A sua vida e os seus
pais. Os pais erram. Mas os
pais amam incondicionalmente, sofrem, preocupam-se, sofrem por antecipação,
preocupam-se com e sem razão, temem por nós, vivem connosco, por nós e para nós
(mesmo que esta não seja a melhor maneira). Os pais erram. Eu
sou mãe há apenas (praticamente) 6 anos e já acho que podia ter feito muitas
coisas de maneira diferente. Se
seriam melhores maneiras… bom isso não sei. Não sei mesmo. Mas seriam
diferentes. E então? Talvez não fosse a vossa mãe – genuinamente falando. Os
pais erram. Sim. Eu (aos meus) tenho
apenas que agradecer tudo o que fizeram (de bom e menos bom), todos os sacrifícios,
todos os presentes, todos os castigos, todos os desafios, todos os erros, mesmo
os enormes. Tudo. Tudo me ensinou a crescer, a ser mais forte, a ser eu e, nem
que seja, me ensinou aquilo que eu não quero ser, aquilo que eu não quero fazer
igual. Se hoje podia ser um Ser melhor, maior não creio que a eles se deva, mas
a mim própria. Não somos a continuação dos nossos pais. Eu não sou. Eu, sou eu.
Eu, como qualquer filho, tenho de “pegar” no que tenho (muito, pouco, bom, mau,
assim-assim) e lançar-me enquanto indivíduo. Pessoa com um passado, com
alegrias e tristezas, com mais ou menos dificuldades, mas enquanto Eu. E
enquanto mãe desejo apenas errar o menos possível Ou melhor, errar com o menor
dos impactos em vocês, na vossa felicidade, no vosso carácter. Posso pedir-vos
desculpa se achar que vale a pena, que ajuda, que vos enriquece, que vos faça
entender, ser melhores. Mas
nunca podemos voltar atrás. Os
pais erram, sim. Mas acreditem quando vos digo: nada dói mais a um pai sabê-lo.
Resta-nos tentar ser melhor, maior. Errando ou não, estou e estarei sempre cá
para vocês, com todo o coração, amor, energia, carinho, força. Com todo o meu
corpo, alma, ultrapassando os limites do pensável e do razoável. Estou para
vocês como estiveram e estão os meus pais para mim. Sou a vossa mãe e não vos
amo apenas por isso. Já vos amava antes, amo-vos por serem quem são e não
apenas por terem saído de mim. Amo-vos hoje e sempre, como os meus pais a mim e
eu a eles. Vivo com vocês e por vocês, mas também por mim. Os pais erram. E eu não serei, com certeza,
diferente.
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