Estiveram no quarto, as
duas já de banho tomado uns 20m. Ouvia-vos falar, sobretudo a ti. Queres baton Maria? É melhor, é um
espectáculo! Mais tarde, chamam-me à sala já preparadas para o “pétáculo”.
Tu, de saia e sapatilhas de ballet
por cima da camisola do pijama. Bandelete.
Batom. Mala com alguns elementos essenciais a uma bailarina… E tu de camisa de
noite, batom devidamente aplicado pela mana, meias nos pés, bolsinha na mão –
com certeza igualmente necessária a uma bailarina. Depois, quando o pai entrou
em casa, esperámos apenas que mudasse de roupa e teve início a dança. Na
verdade este cenário repete-se não raras vezes. Mas ontem, enquanto dançavas
(eras a bailarina principal do vosso espectáculo), enquanto rodopiavas (ora em
pontas ora saltitante), enquanto flectias as pernas e arqueavas os braços, dei
por mim a pensar no dia em que quiseste passar a frequentar as aulas de ballet. Lembro-me claramente de pensar
que “não seria a tua praia”. Se é ou não… não sei ao certo. Mas ontem dançaste
lindamente. Muito bem mesmo. Com imensa técnica e graciosidade. Com leveza,
concentrada, não obstante os olhos atentos de pai e mãe e as risadinhas e ainda
a Maria a tentar igualar-te e a chocar contigo aqui e ali. Ontem fiquei muito
orgulhosa por seres decidida e apaixonada por tudo aquilo que fazes. Ontem
podias ter dançado em qualquer palco, que serias uma estrelinha aos olhos de
todos.